Manter o peso adequado é fundamental para diabéticos

Manter o peso adequado é fundamental para diabéticos

Chips & Dip de AlcachofraO aumento global do consumo de alimentos industrializados aliado ao estilo de vida dos dias atuais tem relação direta com o crescimento da obesidade no mundo. No Brasil, nos últimos 13 anos, os índices de obesidade aumentaram 67,8%. Em 2018, 55,7% dos brasileiros apresentavam sobrepeso e 19,8%, obesidade. Se essa questão preocupa a população em geral, para os diabéticos manter o peso adequado é fundamental.


No diabetes, o sobrepeso e a obesidade são fatores de risco importantes. Um estudo do Diabetes Prevention Program mostrou uma redução proporcional de 16% do risco de DM tipo 2 a cada quilograma de peso perdido.


Portanto, manter-se no peso adequado (conforme Índice de Massa Corporal) e praticar atividade física confira o blog “Atividade física na medida certa em cada faixa etária”) são atitudes simples que fazem grande diferença na prevenção do diabetes, na melhora da qualidade de vida, na mobilidade e nas funções do corpo.


Para quem já tem diabetes e precisa mais do que nunca ficar em dia com a balança, vale ter em pauta os seguintes pontos:


1. Acompanhamento nutricional


O acompanhamento nutricional tem benefícios comprovados mesmo para pacientes diabéticos de longa data. O profissional pode ajudar a traçar uma estratégia nutricional individualizada, que ajuda a manter o peso adequado.


Na rotina alimentar de um diabético, é recomendada a redução de gorduras e açúcares e  aconselha-se o seguimento de dieta hipocalórica para indivíduos com sobrepeso ou obesidade. É importante evitar principalmente as chamadas calorias vazias, como doces e açúcar, bebidas açucaradas (refrigerantes, energéticos, sucos adoçados), frituras e alimentos ultraprocessados criados pela indústria e ricos em açúcar, sal, gorduras saturadas e trans, significativamente mais calóricas (fast food, salgadinhos, biscoitos e bolachas, entre outros).Eliminar esses alimentos do prato auxilia na perda de peso controlada e progressiva.


Por outro lado, para manutenção da saúde, é essencial a ingestão de alimentos in natura, ou seja, da forma que são retirados da natureza, o que vai de encontro à recomendação da dieta do Mediterrâneo, já citada neste ebook. Deve-se priorizar o consumo diário desses alimentos, da forma mais variada possível, para se obter diversos nutrientes benéficos à saúde e evitar ganho de peso excessivo. Verificar a sazonalidade é sempre uma ótima estratégia para consumir produtos mais frescos e nutritivos.


2. Preparo mais adequado


A forma de preparar os alimentos também requer muita atenção, pois esse fator se reflete no valor calórico final da comida e no que será absorvido pelo organismo. Como regra geral, deve-se evitar temperos industrializados, frituras, excesso de óleo e de sal e adição de açúcar.


Um exemplo: um filé de pescada cozido ou assado contém 111 kcal e 0 g de carboidrato; se este filé for empanado em farinha de trigo e frito, passará a contar 283 kcal e 5 g de carboidrato. Observe que o alimento base é o mesmo, mas a forma de preparo alterou o valor calórico e a quantidade de carboidrato.


A recomendação é optar por alimentos grelhados e assados, com pouco ou nenhum óleo no momento do preparo. Os condimentos também merecem cuidado especial: a melhor alternativa são os temperos naturais, como alho, cebola, cheiro-verde, salsinha, coentro, orégano, noz-moscada, cúrcuma, páprica, limão e outros.


 3. Cuidado com bebidas alcoólicas


O consumo de bebidas alcoólicas deve ser moderado em toda a população e para os diabéticos essa recomendação é ainda mais importante. Isso porque o álcool pode desencadear complicações maiores, como a hiperglicemia, quando consumido juntamente com muitos alimentos, ou hipoglicemia, se consumido isoladamente.


Em portadores tanto de DM1 quanto DM2, a bebida alcoólica pode causar prejuízos à função cognitiva (por não notar sintomas como da hipoglicemia) e desregular a secreção de insulina. Também contribui efetivamente com ganho de peso, pois cada 1 g de álcool contém 7 kcal.


O consumo de álcool deve ser evitado de uma maneira geral.  Porém, para as pessoas que fazem uso de bebidas alcoólicas, recomenda-se consumo máximo de 1 porção para mulheres e 2 porções para homens, e sempre em conjunto com uma fonte de carboidrato. O volume de cada porção varia de acordo com a bebida: 360 mL para cerveja; 45 mL para destilados; e 150 mL para vinho.  É importante salientar que, para o consumo moderado de álcool, a boa condição clínica do diabético (bom controle glicêmico) é fundamental e as quantidades devem ser discutidas com a equipe de saúde.


Importante: pessoas com aumento de triglicérides e portadores de neuropatias não devem consumir álcool.


4. Controle dos açúcares

Estamos considerando aqui os açúcares adicionados aos alimentos, como branco, mascavo, orgânico, melaço, de coco, mel e xarope de milho. Quando consumidos isoladamente ou juntamente com alimentos pobres em fibras, esses açúcares contribuem para a elevação da glicemia.


Por conta disso, as restrições a esse nutriente na dieta do diabético já foram mais severas. Com a evolução das diretrizes nutricionais para esses pacientes, há variação significativa quanto à recomendação do consumo de açúcar. Inicialmente, indicava-se eliminá-lo da dieta. Mas, ao longo do tempo, o seu consumo foi liberado, desde que se atenda aos critérios internacionais.


Evidências atuais indicam que o consumo máximo de açúcar na dieta deve ser de 6% das calorias totais (exemplo na tabela abaixo). A flexibilização só pode ser feita levando-se em conta as condições clínicas dos indivíduos e contando com o apoio de um nutricionista para orientação dos ajustes.


Valor máximo de consumo de açúcar para dietas com diferentes valores calóricos*


Tabela
* A individualização da dieta deverá ser feita juntamente com a equipe interdisciplinar

No convívio social, quando não for possível evitar o consumo de alimentos ricos em açúcares, a recomendação é associar a eles a ingestão de alimentos com bom aporte de fibras.




  1. Leitura dos rótulos


Os alimentos industrializados não devem ser a base da alimentação, porém, o consumo destes, bem como dos produtos diet e light, representa uma alternativa válida para exceções e flexibilização do plano alimentar.


Entretanto, para evitar problemas, é fundamental ter o conhecimento sobre rotulagem dos alimentos. Para começar, convém prestar bastante atenção aos ingredientes descritos nos rótulos. Nesse ponto, a dica é observar como eles aparecem: a lista de ingredientes está em ordem decrescente, do mais usado para o menos usado na receita. É preciso ficar atento também às várias nomenclaturas que o açúcar pode ter nos rótulos: açúcar invertido, xarope de milho, xarope de glicose, glicose, glucose, maltodextrina, entre outras.


Não se deixe enganar por propagandas com apelos do tipo “alimento saudável” ou “ alimento integral”, que podem não corresponder à real composição do produto. Alimentos com propaganda de integrais, mas que exibem como primeiro ingrediente “farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico” ou que em sua composição conste “xarope de glicose”, conterão predominantemente carboidratos de rápida absorção. Ou seja, podem ocasionar rápida elevação na glicemia.


Outro dado a ser observado nos rótulos é a quantidade de fibra do alimento industrializado. Esse é um dos itens descritos na tabelinha “Informação Nutricional”: o ideal é que a quantidade de fibra da porção descrita fique acima de 2,5 g. Esse é um aporte que poderá auxiliar na saciedade e melhorar o controle glicêmico.


Os produtos diet (vem da palavra dieta em inglês) são modificados pela indústria com a exclusão total de algum ingrediente, que pode ser sal, gordura ou açúcar. Antes de comprar é preciso checar qual desses ingredientes foi excluído. No caso dos diabéticos, a exclusão deve ser do açúcar.


Para compensar o ingrediente excluído, os produtos dietcontêm mais gorduras saturadas ou trans e maior quantidade de calorias totais, contribuindo para o ganho de peso se o consumo for recorrente. Há ainda a adição de adoçantes, que não devem ser consumidos com frequência e em grande quantidade.


Já um produto com o termo light é aquele que sofreu redução mínima de 25% de algum nutriente se comparado à sua versão original. Nesse caso, pode ser redução calórica, de gorduras totais ou gorduras saturadas, sódio, colesterol e açúcares. Antes de comprar, é essencial checar na lista de ingredientes se há inclusão de açúcar.


Vale reforçar que o mais importante é o equilíbrio, sem radicalismo. Não há nenhum alimento proibido ao paciente diabético, mas aqueles com alto teor de açúcar e gorduras devem ser consumidos de maneira bem menos frequente, inseridos numa refeição adaptada em calorias e carboidratos e rica em fibras. Consulte e tenha sempre como aliado o seu nutricionista.


Referências:



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American Diabetes Society. Prevention or Delay of Type 2 Diabetes: Standards of Medical Care in Diabetes 2020. In: American Diabetes Association Standards of Medical Care In Diabetes -2020. Diabetes Care,2020. 43 (1):32-36.

American Diabetes Society.Classification and Diagnosis of Diabetes: Standards of Medical Care in Diabetes 2020. In: American Diabetes Association Standards of Medical Care In Diabetes -2020. Diabetes Care,2020. 43 (1):14-31.

Sociedade Brasileira de Diabetes. Tratamento do diabetes mellitus: medidas de estilo de vida. In: Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2019-2020. Clanad, 2019.1 (1): 96-129.

Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica. Mapa da Obesidade no Brasil. [internet]. Acessado  22 jul 2020. Disponível em: <https://abeso.org.br/obesidade-e-sindrome-metabolica/mapa-da-obesidade/>.

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Hamman RF, Wing RR, Edelstein SL, Lachin JM, Bray GA, Delahanty L, et al. Effect of weight loss with lifestyle intervention on the risk of diabetes. Diabetes Care,2006.29(9):2102-7.

Santos R.D., Gagliardi A.C.M., Xavier H.T., Magnoni C.D., Cassani R ., Lottenberg A.M.P., et.al. I Diretriz sobre o consumo de gorduras e saúde cardiovascular. Arq. Bras. Cardiol.  [Internet]. 2013  Jan [acessado:  23 Jul 2020];100 (3):1-40. Disponível em:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066782X2013000900001&lng=en.  http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2013000900001.

 
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