Alergias alimentares: Condutas e dicas para conviver com elas

Alergias alimentares: Condutas e dicas para conviver com elas

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Ainda não existe cura ou tratamento específico para quadros de intolerância e alergias alimentares. Mas há diversas estratégias que podem garantir a saúde e o bem-estar desse paciente.


Depois de fechado o diagnóstico, o primeiro passo é fazer a adequação da rotina alimentar de quem apresenta alergia ou intolerância. Isso significa excluir da dieta os alimentos que provocam a reação alérgica. Fazendo, claro, as substituições necessárias para manter uma rotina alimentar equilibrada e balanceada, com todos os nutrientes de que o organismo necessita. Nos casos mais graves, o médico pode ainda avaliar a necessidade de prescrever medicamentos para situações de consumo acidental do alérgeno e tratamento dos sintomas.


O objetivo do tratamento nutricional para alérgicos é evitar o desencadeamento de sintomas, a piora das manifestações clínicas e possíveis deficiências por parte da exclusão do alimento alérgeno da dieta. Para isso, o trabalho em equipe multidisciplinar é fundamental, uma vez que diminui as dificuldades do paciente e aumenta sua adesão ao tratamento.


O atendimento com um nutricionista é indispensável para o monitoramento de possíveis deficiências nutricionais. Com esse apoio, o paciente poderá ajudar a manter uma alimentação saudável e variada com novas receitas e lista de substituições. Outro ponto crucial é a conscientização do paciente e de todos a sua volta. Caberá a eles colocar em prática as orientações e informações para garantir a segurança do indivíduo alérgico.


Medidas práticas


Parece difícil - não é mesmo? - quando pensamos que a comida tem papel central em nossas vidas, seja em casa, seja fora dela, em reuniões de família ou de amigos. Mas há luz no fim do túnel! Se você tem alguma alergia ou intolerância alimentar deve se preparar para esses eventos, afinal, eles não vão parar de acontecer. E você não vai deixar de participar apenas porque tem alergia alimentar!


Para facilitar, preparamos um guia prático de como se organizar e se preparar para manter todos a seu redor cientes e prontos para ajudar, fazendo com que o ambiente esteja seguro para o melhor convívio familiar e bem-estar de todos. Siga essas regras básicas:


Regra nº 1


Tenha sempre com você  (na bolsa ou mochila) um kit de socorro e um “cartão informativo” com orientações de como usá-lo e dados básicos: o nome do alimento ao qual você é alérgico; os principais sintomas que podem ocorrer; pessoas  a serem contatadas numa emergência; nome do seu médico e dados do seu seguro de saúde. Em viagem, faça o cartão na língua do país que estiver visitando. Essa regra vale para situações como passeios, escola, trabalho e festas, entre outras.


Regra nº 2


Dê informações claras sobre sua alergia para familiares, amigos, colegas de trabalho, professores e outras pessoas com quem convive. Assim eles poderão ajudar e dar o apoio de que você precisa. E esclareça todas as dúvidas que surgirem. Muita gente não sabe a gravidade de uma alergia alimentar. Você pode ajudar as pessoas a sua volta a entender as maneiras seguras de comprar, cozinhar e servir alimentos.


Regra nº 3


Após a manipulação de alimentos, pequenas partículas podem ficar nas superfícies, nos utensílios e equipamentos, no local onde são armazenados. Esses traços podem contaminar os alimentos livres de alérgenos destinados ao membro da família que tem alergia. É o que se chama de contaminação cruzada. Para evitar esse risco, vale observar alguns cuidados:




  • Separar os utensílios que serão usados só pela pessoa alérgica, dos talheres às panelas. Para facilitar, uma dica é que eles sejam de cores diferentes dos itens utilizados para a família.

  • Higienize muito bem equipamentos usados no preparo dos alimentos, como tábuas de corte, facas, cortadores, colheres, copos medidores, tigelas e outros utensílios. Ou tenha um kit com esses equipamentos para uso exclusivo no preparo das refeições livres de alérgenos.

  • Use água quente e sabão para remover o alérgeno das superfícies que podem ter sido contaminadas.

  • No armário e na geladeira, reserve uma prateleira exclusiva para os produtos destinados à pessoa com alergia. De preferência, mais alta que as demais. E lembre-se de identificar tudo com etiquetas coloridas.

  • Faça um estoque mínimo dos produtos básicos para o alérgico que sejam de substituição mais difícil.

  • Antes, durante e após o preparo dos alimentos, lave bem as mãos. Higienize também a bancada utilizada na preparação.


Regra nº 4


Leia os rótulos, sempre! De acordo com uma resolução (RDC Nº26, de 2 de julho de 2015) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério da Saúde, os fabricantes são obrigados a alertar para a presença de alérgenos no rótulo dos principais alimentos que podem causar alergias alimentares: trigo, centeio, cevada, aveia, crustáceos, ovos, peixes, amendoim, soja, leite de todas as espécies de animais mamíferos, amêndoa, avelã, castanha de caju, castanha-do-pará, macadâmia, nozes diversas, pistache, pinoli e látex natural.


Os rótulos devem trazer em destaque a frase “ALÉRGICOS: CONTÉM...” seguida do nome do produto presente na lista acima. Ou a frase “ALÉRGICOS: PODE CONTER...” nos casos em que não é possível assegurar que o produto não tenha sido exposto ao risco de contaminação cruzada durante o processo de produção.


Mas é preciso atenção redobrada, pois nem tudo é tão claro assim. Muitas vezes o perigo pode estar em ingredientes desconhecidos, por se tratar de conservantes ou aditivos, como o caseinato de sódio que pode afetar os alérgicos à proteína do leite de vaca. Em caso de dúvida, entre em contato com o fabricante para esclarecer tudo muito bem. Não descuide de olhar o rótulo mesmo nos casos de produtos que já são consumidos há tempos. Isso porque o fabricante pode mudar a formulação.


Regra nº 5


Muitas vezes, padarias e confeitarias não costumam colocar rótulos padronizados em seus produtos. Especialmente para alertar sobre o risco de contaminação cruzada. Nesses casos, melhor evitar esse tipo de produto. Se não der, tome precauções. Se for comprar embutidos fatiados nesses estabelecimentos, por exemplo, procura se informar se esse procedimento é feito na mesma máquina usada para fatiar queijos.


Regra nº 6


As comidas que você mesmo prepara ou que são feitas por pessoas de sua confiança são sempre as opções mais seguras. Cultive mais o prazer de cozinhar em casa, busque novos ingredientes para substituir os que são proibidos, faça dessa atividade um momento gostoso de convívio com a família e os amigos. A Mesa Clínica Einstein: Alergias é um bom incentivo. Separamos receitas deliciosas para isso acontecer!


REFERÊNCIAS:


Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar (2018) - Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Disponível em:http://www.sbp.com.br.


Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (2019). Disponível em: http://www.asbai.org.br.


Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n°26, de 2 de julho de 2015.


Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2694583/RDC_26_2015_.pdf/b0a1e89b-e23d-452f-b029-a7bea26a698c.


 


Guia Alimentar para população brasileira, Brasília, 2014. Ministério da Saúde


Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 - Parte 1 - Etiopatogenia, clínica e diagnóstico. Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Disponível em: http://aaai-asbai.org.br/detalhe_artigo.asp?id=851.


Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 - Parte 2 - Diagnóstico, tratamento e prevenção. Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/aaai_vol_2_n_01_a05__7_.pdf.


The Role of Baked Egg and Milk in the Diets of Allergic Children. Robinson L M. et al. Immunol Allergy Clin N Am 38 (2018).


Formas graves de alergia alimentar. Sarinho E. Lins, M G M. J Pediatr (Rio J). 2017.


Guia prático de diagnóstico e tratamento da Alergia às Proteínas do Leite de Vaca mediada pela imunoglobulina E. Disponível em: http://aaai-asbai.org.br/detalhe_artigo.asp?id=651.


Técnica dietética aplicada à dietoterapia, Pinto-e-silva, M E. M; Yonamine, G H; Atzingen, M. C. B. C. V. Ed. São Paulo: Manole, 2015.


Prevention of Food Allergies Immunol Allergy Clin N Am 38 (2018), Koplin, J et al.


Food allergy: a practical update from the gastroenterological viewpoint. Ferreira CT, Seidman E. J Pediatr (Rio J). 2007;83(1).

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