Passo a passo para introduzir a alimentação complementar dos bebês

Passo a passo para introduzir a alimentação complementar dos bebês


Não tem segredo. Seguir o passo a passo ideal da introdução alimentar complementar após a fase do aleitamento exclusivo é o caminho para construir bons hábitos alimentares que acompanharão seu filho pela vida afora. Como diversas outras áreas do desenvolvimento infantil, nesta também o aprendizado adquirido nos dois primeiros anos de vida constitui uma base fundamental.


Roteiro básico de cada etapa 

Como indica o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos, em sua edição atualizada, lançada em 2019 pelo Ministério da Saúde, o aleitamento materno deve ser exclusivo até os seis meses de vida. Mas após esse período o bebê começa a ter necessidades nutricionais que pedem uma alimentação complementar. Nessa idade, ele também já desenvolveu alguns recursos que o tornam apto a receber outros tipos de alimentos. Isso não significa abandonar de vez o aleitamento. Pelo contrário, o leite materno pode continuar na rotina alimentar do bebê, intercalando-se com as outras comidas, até os dois anos de idade, desde que essa seja a vontade da mãe ou da criança.


Inicia-se aqui a deliciosa fase de apresentar a seu filho um mundo de sabores, aromas, cores e texturas. Uma novidade e tanto. E, como tudo que é novo, essa fase também traz muitas dúvidas. Para ajudar a família a fazer essa transição com tranquilidade, apresentamos a seguir um roteiro com as etapas de introdução da alimentação complementar, de acordo com a faixa etária:


Seis meses de idade 

Nessa idade, o bebê já consegue sentar com pouco ou nenhum apoio. Nem todos eles já estão com os dentinhos despontando nessa fase, mas, por conta disso, a gengiva já está dura o suficiente para mastigar os alimentos. Também nessa fase diminui bastante o movimento de empurrar a língua para fora da boca, reflexo bastante usado pelo bebê na amamentação. Com isso, fica mais fácil oferecer colheradas de alimento sem que a criança coloque tudo para fora. No começo, isso poderá acontecer ainda, mas não se impressione nem pense que é porque ele está rejeitando a comida.


Nessa primeira fase, organize a oferta dos novos alimentos em três refeições: uma das principais (que pode ser almoço ou jantar) e dois lanches.


Comece oferecendo frutas raspadinhas ou amassadas. Nenhuma fruta é contraindicada (exceto carambola nos casos de insuficiência renal). A escolha deve ser feita respeitando-se as características regionais, o custo, a estação do ano e a presença de fibras. Evite transformar a fruta em suquinho: essa opção pode levar ao consumo maior de calorias e à baixa ingestão de fibras e, consequentemente, ao risco de predispor as crianças à obesidade.


Uma ou duas semanas depois já é possível começar com a papa numa das refeições principais. O ideal é que ela seja oferecida desde o início no horário em que toda a família estiver se alimentando. Já nessas primeiras refeições é importante incluir todos os grupos alimentares essenciais para uma refeição balanceada:


a) Cereais ou raízes e tubérculos (arroz, aipim/mandioca/macaxeira, milho, batata, batata-doce, cará, inhame, quinua, macarrão, etc.) – São fontes de carboidrato, nutriente que fornece energia para a criança brincar, crescer e se desenvolver. Esses alimentos são também ricos em fibras, vitaminas e minerais.


b) Leguminosas (os vários tipos de feijão, lentilha, ervilha, grão-de-bico, etc.) – São essenciais na refeição da criança, já que oferecem boas doses de vitaminas do complexo B, proteínas, fibras, ferro e zinco.


c) Hortaliças (espinafre, alface, rúcula, couve, beterraba, cenoura, abobrinha, tomate, repolho, etc.) - São ricos em diversas vitaminas e minerais, além de fibras, que previnem contra a constipação intestinal e algumas doenças. A aceitação dos alimentos deste grupo está diretamente relacionada com o consumo destes alimentos pela família, ou seja, se os pais consomem e incentivam os filhos, a aceitação será mais fácil.


d) Carnes (boi, frango, porco, peixe; fígado, rins, coração e estômago, que são ricos em vitaminas do complexo B) e ovos – Ofereça entre 50 g e 70 g por dia (em duas papas). Esse ingrediente não deve ser retirado após o cozimento, mas incorporado ao prato, picado ou desfiado. Sempre que possível, diversifique o tipo de proteína animal, para proporcionar maior variedade de nutrientes e micronutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento da criança nessa fase, como ferro e zinco. A inclusão do ovo na papa (cozido inteiro, com clara e gema) deve ser incentivada por ser este uma excelente fonte proteica, além de possuir alto valor nutricional e ter baixo custo.


E os temperos? O sal não deve ser adicionado ao preparo, pois a quantidade de sódio presente nos ingredientes utilizados na papa é suficiente. Temperos prontos, como caldos em sachês ou tabletes ou quaisquer outros condimentos industrializados devem ficar de fora da comida da criança. Também é preciso controlar o uso de óleo vegetal (canola, soja, girassol, oliva) – o recomendado é adicionar entre 3 ml e 3,5 ml para cada 100 ml ou 100 g de preparação pronta.


Outra questão importante é acertar na consistência. A papa deve ser amassada, e não peneirada ou liquidificada. Bem cozidas, as carnes devem ser desfiadas ou cortadas em pedaços pequenos. Recomenda-se iniciar com pequenas quantidades do alimento, entre 1 e 2 colheres (chá), colocando o alimento na ponta da colher e aumentando a porção conforme a aceitação da criança.


Cardápio do dia



Sete a oito meses de idade

Em geral, o bebê já começa a aceitar alimentos de consistência mais firme e em pedaços pequenos. A papa pode ser oferecida já nas duas refeições principais.


A criança também presta mais atenção ao prato e aos alimentos que lhe estão sendo oferecidos. É portanto o momento ideal para diversificar o cardápio de sabores, cores e texturas que compõem suas refeições. Para que ele perceba as características de cada alimento, ofereça-os separadamente. Assim, ele poderá desenvolver preferências e aprimorar o paladar. A exposição frequente a determinado alimento e a criatividade na preparação e na apresentação facilita a sua aceitação. Não desista logo nas primeiras recusas, deixando de lado um ingrediente por acreditar que seu filho não gosta dele. Em média, são necessárias de oito a dez exposições ao alimento para que este seja plenamente aceito pela criança.


Com relação a consistência, a comida deve ser menos amassada ou oferecida em pedaços pequenos. Alimentos mais macios podem ser oferecidos em pedaços maiores, para que a criança consiga segurá-los e tentar comer sozinha. Normalmente, nessa idade ela adora explorar os alimentos com as mãos, amassar, sentir a textura. Também é boa ideia dar uma colher para que ela segure e ensaie levá-la até a boca.


Cardápio do dia



Nove a 11 meses 

Nessa fase, a criança provavelmente já está engatinhando ou andando com ou sem apoio. Com todo esse desenvolvimento, ela precisa cada vez mais da alimentação complementar para suprir suas necessidades nutricionais e energéticas.


Dentinhos à mostra, ela pode mastigar melhor os alimentos mais duros. Começa a fazer movimento de pinça com a mão, o que permite que segure pequenos objetos, como uma colher, por exemplo. É capaz de se alimentar com independência, embora ainda precise de ajuda. Então, é o momento de estimulá-la a ganhar ainda mais independência nesse terreno. Como? Incentive a criança a pegar os alimentos com as mãos, exercitando o movimento de pinça, ou a cortá-los com os dentinhos da frente, atividade que ajuda no desenvolvimento e fortalecimento da mandíbula.


Com a aquisição dessas habilidades, a criança já pode receber alimentos com consistência mais próxima à dos que são destinados aos outros membros da família, com carnes desfiadas, por exemplo.


Cardápio do dia




Um a dois anos de idade 

Uma das principais características dessa fase é a diminuição no ritmo de ganho de peso. Como a criança conquistou a marcha, sua curiosidade se volta para a exploração do mundo ao seu redor. Consequentemente, o interesse pelas refeições pode diminuir. Como ela também começa a falar, já pode expressar preferência pelos alimentos. Bem mais habilidosa no manejo da colher, torna-se capaz de segurar o copo com as duas mãos e levá-lo à boca. A mastigação se faz mais potente com o surgimento de novos dentes, os molares.


É nessa fase também que muitos pais costumam encasquetar que a criança não está comendo direito e recorrer a algumas estratégias pouco adequadas para estimulá-la a ingerir mais alimentos. Todo cuidado é pouco. Nada de fazer ameaças ou chantagem – como dizer que, se ela comer tudo que está no prato, ganhará um doce. Não vale também tentar distraí-la com a TV ou o celular enquanto vai colocando colheradas de comida na sua boca!


Cardápio do dia



E se o bebê não é amamentado?

Nesse caso há dois cenários possíveis: fórmulas infantis e leite de vaca modificado em casa. As fórmulas infantis são balanceadas e suprem as necessidades nutricionais do bebê nos primeiros meses de vida. Por isso, a introdução dos alimentos complementares para as crianças que recebem esse tipo de leite pode ser iniciada também aos seis meses de idade, seguindo o mesmo roteiro da que é amamentada. A diferença é que, a partir dos nove meses de idade, a fórmula infantil pode ser trocada por leite de vaca integral.


Não acontece o mesmo com as crianças alimentadas com leite de vaca modificado em casa (diluído, nos primeiros quatro meses de vida, com orientação de profissionais da saúde, para ficar mais adequado ao consumo do bebê). Esse leite não oferece em quantidades adequadas alguns nutrientes importantes para o crescimento e desenvolvimento da criança como vitaminas A, D e C. E o bebê não consegue aproveitar todo o ferro nele contido. Por conta dessas limitações, visando evitar deficiências nutricionais, a recomendação para as crianças alimentadas com esse tipo de leite é que passem a receber a alimentação complementar já a partir de quatro meses de idade.


Mas vale observar se o bebê já está preparado para receber esse tipo de alimento: é importante que ele seja capaz de ficar sentado e com a cabeça firme; demonstre coordenação entre os olhos, a mão e a boca; e consiga mastigar e engolir sem engasgar. A partir dessa idade, o leite de vaca integral também não precisa mais ser diluído.


Fontes:

Guia alimentar para a criança brasileira menor de 2 anos. Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da SaúdeBrasília, 2000.


Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Primária à Saúde, Departamento de Promoção da Saúde. Brasília, 2019.


Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para crianças menores de dois anos: um guia para o profissional da saúde na atenção básica. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. 2 edição, 2 reimpressão. Brasília, 2013.


Manual de alimentação: orientações para alimentação do lactente ao adolescente, na escola, na gestante, na prevenção de doenças e segurança alimentar. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Nutrologia. 4ª edição. São Paulo, 2018.

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